POBREZA E FELICIDADE
Pobreza e Felicidade
O Pe. David Azevedo, inicia este tema, Pobreza e Felicidade, descrevendo a refeição, de S. Francisco com Santa Clara em Sta. Maria dos Anjos. Esta descrição desta refeição sentimos um pulsar franciscano, todos foram envolvidos, os companheiros de Francisco, os de Clara e o povo das redondezas numa alegria genuinamente franciscana na qual todos se mobilizam na alegra do encontro.
Santa Clara monja de clausura manifesta o desejo de fazer, ao menos, uma refeição conjunta com Francisco. O santo querendo preservar a santa Pobreza, não lhe satisfez o pedido.
Os companheiros de Francisco, ao terem conhecimento do desejo de Clara, intercederam, junto de Francisco, com muito empenho, levando-o a ceder; citamos o apelo dos irmãos: “(…) mas os companheiros, vendo o desejo de Santa Clara, disseram a S. Francisco: – Padre, parece-nos que não é conforme à caridade divina este rigor: não queres atender a irmã Clara, virgem mui santa e querida de Deus, em tão pequena coisa, como é comer contigo; especialmente considerando que ela, por tua pregação, abandonou as riquezas e as pompas do mundo.” (Florinhas, Capítulo XV)
O espírito conciliador de Francisco leva-o a aceitar a argumentação dos companheiros atendendo o pedido de Clara. Manda que se prepare as Boas-vindas de Clara, conforme a santa Pobreza: “Entretanto mandou S. Francisco preparar a mesa sobre a terra nua, como de costume. Chegada a hora de jantar, sentaram-se juntos S. Francisco e Santa Clara, e um dos companheiros com a companheira de santa Clara; depois todos os outros irmãos se aproximaram da mesa humildemente.” (Florinhas, Capítulo XV)
Francisco, de coração puro e desarmado usou da palavra e, falando de Deus, inundou a todos de Felicidade. A Palavra, alimento espiritual do homem, a qual secundariza o alimento corporal: “Como primeira vianda, começou S. Francisco a falar de Deus, tão suavemente, tão maravilhosamente, que, baixando sobre eles a abundância da divina graça, todos foram arrebatados em Deus.” (Florinhas, Capítulo XV)
“Depois de largo espaço de tempo, tendo S. Francisco e Santa Clara tornado a si, bem como os demais, e sentindo-se mui reconfortados com o alimento espiritual, pouco caso fizeram do alimento corporal.” (…)o bosque, que então existia junto da casa, ardia em chamas, parecendo ser aquilo um grande incêndio(…) que consumia a igreja, o conventinho e bosque juntamente. Pelo que os Assisienses, com grande pressa, correram ao lugar para apagar o fogo, julgando firmemente que tudo estava ardendo. Mas, ao chegarem ao sítio e não encontrando sinais de fogo (…)” “E assim se foram embora, com grande consolação.”
A natureza da felicidade;
O Pe. David Azevedo, referindo-se à felicidade e pobreza, faz a seguinte reflexão que passamos a citar: “Nesta deliciosa narrativa, (acima citada) três coisas se nos impõe com grande encanto: a natureza da felicidade que inundou o coração dos dois santos e dos seus companheiros, a leve necessidade a que a alimentação corporal foi reduzida e, finalmente, a impressão que tudo aquilo causou nos habitantes das redondezas. Prouvera a Deus que a alegria das casas franciscanas causasse impressão semelhante e fizesse os homens correrem a ver o que lá se passa, bem como a interrogarem-se sobre o conceito que têm de felicidade”, Pe. David Azevedo (p. 107).
- Francisco e o entusiasmo com que vive a Pobreza
Como vive S. Francisco a santa Pobreza? citação a segunda Regra 2R 6,4-6)
“Os frades de nada se apropriem, nem casa, nem lugar, nem coisa alguma. E como peregrinos e forasteiros (cf. 1Pd 2,11) neste século, servindo ao Senhor em pobreza e humildade, vão por esmola confiadamente, e não devem envergonhar-se, porque o Senhor se fez pobre por nós neste mundo (cf. 2Cor 8,9). Esta é aquela iminência da altíssima pobreza que vos constituiu, caríssimos irmãos meus, herdeiros e reis do reino dos céus, vos fez pobres de coisas e sublimou em virtudes (cf. pg 2S
- Francisco vê na Pobreza o único caminho que nos leva à Terra dos Vivos. Quer viver a pobreza como a viveu nosso Senhor Jesus Cristo; citamos a Primeira Regra não Bulada “(…) que vão e vendam todas suas coisas e procurem distribuí-las aos pobres. “ (..) Mando firmemente a todos os frades que de nenhum modo recebam dinheiro ou pecúnia por si ou por intermediário. Mas, para as necessidades dos enfermos e para vestir os outros frades, (..)” (1R 2,4)
Assim, os seguidores de Francisco, os Frades, viviam a pobreza num estado puro “sem nada de próprio” por ser o único caminho que levava à Terra dos Vivos
A Felicidade é encontrada na alegria da Casa franciscana, no convívio fraterno. Os Frades, viviam em obediência, em castidade e, sem nada de próprio. Francisco seguia a Bíblia à letra vivendo a santa pobreza como a viveu Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Santíssima Mãe.
A Pobreza
Francisco, seguidor do Evangelho à letra “sem glosa”, vive a sua vida em conformidade com o Evangelho. Não toma como modelo as comunidades primitivas descritas nos atos dos apóstolos que passamos a citar: “Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam as terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos de acordo com as necessidades de cada um”. (At 2, 44.45) As comunidades primitivas assentavam num modelo de abdicação de propriedade individual em favor da propriedade coletiva eram um só coração assente numa união fraterna. “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu o que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum” (At 4, 32)
Por outro lado, a pobreza dos Apóstolos, é uma pobreza real, pobreza franciscana: “sem nada de próprio” (Lc 9,3). Este estado de pobreza vivida pelo pobrezinho de Assis emocionou a muitos e muitos milhares o seguiram
Esta paixão de Francisco, de seguir a Cristo pobre e crucificado, não se reduz a uma forma contemplativa, antes assume uma forma dinâmica, uma relação amorosa com Cristo crucificado, não se resume, somente, a acompanhá-Lo mas, a morrer lucido, estigmatizado, deitado na terra nua (a seu pedido)! Para melhor compreendermos a entrega de Francisco citamos S. Boaventura na Legenda Maior, capítulo XIV: “Em tudo quis conformar-se com Cristo crucificado, que esteve pendente da cruz, pobre, cheio de dores e completamente nu. (…) e ao fim da vida, completamente nu quis sair deste mundo, ordenando por santa obediência aos irmãos que o assistiam que, quando o vissem morto, deixassem seu cadáver inteiramente despido no chão por tanto tempo quanto fosse necessário a uma pessoa para percorrer o espaço de uma milha. Ó varão verdadeiramente cristão, que quiseste viver em tudo conforme com a vida de Cristo, morrer como ele morreu e como ele permanecer como cadáver abandonado depois de morto e que mereceste as honras da impressão em teu corpo dessa perfeita semelhança!” (São Boaventura, LM XIV, 4-6)
Em resumo (muito resumido) A Pobreza de Cristo, é vivida numa dialética de amor, de participação, de serviço, de obediência e de entrega redentora a Cristo. É amor ao pai e aos homens simultaneamente porque, ao ser identificado com Cristo Pobre e crucificado é também comunhão e esperança para os homens.
A Pobreza, Glorificação do Pai
Francisco, na sua experiência de fé, encontra na pobreza o rosto de Deus. Jesus diz, quem me quer seguir: “negue-se a si próprio”, isto é, terá de esquecer-se de si mesmo, abandonar o egocentrismo, a vontade própria e abraçar a obediência “Quem quiser vir após mim, esqueça-se de si mesmo” Ser pura transparência, pura capacidade de encanto diante de Deus, ser todo dádiva.
Ser criança (a infância espiritual)
Francisco vê na infância de Jesus a superação do egocentrismo da apropriação, o seu olhar penetra na profundidade do interior do ser humano, o qual apura a autoestima, a liberdade, a dignidade da pessoa e, acima de tudo, a obediência. Refere o santo: “Podia Adão comer de todas as arvores do paraíso e, enquanto não foi contra a obediência, não pecou”. Come do fruto da árvore da ciência do bem e do mal quem se faz dono da sua vontade, e se ensoberbece com os bens que o Senhor por meio dele diz e faz (Cf. Gn, 2, 16-17).
Isto é, não basta despojar-se dos bens materiais é, imperioso que, entregue ao Senhor o que tem de mais precioso: a vontade. O Senhor diz no Evangelho: “Quem não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo (…) Renuncia a tudo quanto possui quem todo se abandona à obediência nas mãos do seu superior” (Cf. Lc 14, 33).
A ausência do egoísmo torna o homem um canal comunicante com Deus. Diz-nos Pe. David Azevedo: ”Esta ausência de egoísmo torna o homem totalmente transparente, (…) todo o ser de Jesus é gratidão. A gratidão é o âmago do ser de Jesus, precisamente porque o âmago do seu existir é ser dom: “ser a partir do pai” e “ser para os homens” (Fé e Vida, p. 116)
Jesus é puro Dom para o Pai, Dom no meio da Trindade, (infância de jesus) e dom para os homens diz-nos Cardeal Ratzinger: “O verdadeiro título de Jesus não é de Rei, nem de Senhor, mas de Filho – que poderia igualmente traduzir-se por criança. Dizer “filho” significa dizer dependência” (Fé e Vida. p. 117)
Seguro e quente na mão do Pai
O medo habita no homem devido a múltipla contingência, desde logo na inevitabilidade da morte (deixar de existir), medo que lhe falte o pão, medo que lhe falte o amor e, o amor, torna-se paixão, ciúme, escravidão do ser amado, medo ainda, da injustiça, da manipulação, da soberba, da opressão, etc. Francisco, supera todos estes medos pela confiança em Deus-Pai. Todo ele dom e obediência (Francisco) não conhece o medo porque não teme a fome e não se escraviza ao amor dos homens e, também, abdicou, do egocentrismo da apropriação. Ora com estes princípios interiorizados no seu mais profundo ser não se deixa manipular pelo homem.
Exemplo disso é; quando o Bispo de Assis o aconselha a aceitar algumas terras de rendimento ele responde: “Senhor Bispo, se tivéssemos bens, precisávamos de armas para os (defender. (…) Por isso não queremos possuir neste mundo nenhum bem temporal” (Legenda dos Três Companheiros – TC 35, 2).
Encanto e felicidade
Francisco não vive a Pobreza como um esquecimento de si mesmo mas, como transparência e plenitude. Citemos Pe. David Azevedo: “(…) Francisco deixa-se inundar, como um cristal, pela luz de Deus e, plenificado, torna-se como um sol a espalhar felicidade à volta de si. O seu olhar, iluminado a partir do coração, torna- se fulgor, poesia, encanto e louvor perante tudo o que o rodeia.” (Fé e Vida, p. 119)
Ora com esta alegria, leveza de coração, capacidade de dar e de se deixar encantar é ela também uma forma de pobreza. Deus, quando criou o mundo também se encantou: “Que lindo” – “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era bom”. (Gn 1, 31)
Concluímos que; Também, Francisco e Clara, na refeição da Porciúncula, referida no início desta apresentação, os dois santos, em virtude da felicidade espiritual que sentiram, pouco caso deram ao alimento corporal. A felicidade como encanto. Esta, permite a relativização dos bens materiais
Pobreza vertigem da Cruz
A pobreza de Francisco não deve ser entendida como um estado de extasia ou contemplação, mas, como um movimento, um caminho de despojamento que o faz caminhar com os olhos fitos no seu Senhor a caminho do Calvário e até ao abismo da Cruz. Ele vive a pobreza com base na experiência.
Afirma Pe. David Azevedo: “Francisco não quis outra pobreza senão a de jesus Cristo” (Fé e Vida, p. 121).
Poderemos concluir dizendo: S. Francisco não se limita a seguir o exemplo, mas, a viver tangencialmente o sofrimento de Jesus Cristo e da Santíssima sua Mãe.
Pobreza material como identificação com o crucificado
A austeridade é um marco na vida de S. Francisco e, muitas vezes, marcada pela mortificação e carência de coisas básicas. Todos nós que seguimos a Francisco, não podemos deixar de nos tocar pela simplicidade, pela entrega, pela alegria exalada naquela vida errante que Francisco viveu em Rivotorto com os seus companheiros. Viviam pauperrimamente com uma alimentação frugal e com frio vivendo em igrejinhas pobres como era a Porciúncula mas, inundados de uma feliz alegria: “E vivíamos com muita alegria em igrejas pobrezinhas e abandonadas” (T 18)
Com evoluir da Fraternidade e, em função das necessidades, Francisco, foi permitindo que se erguessem cabanas, mas, sempre apelando aos Irmãos que se mantivessem fiéis à santa Pobreza: “Acautelem-se irmãos – avisa ele no Testamento, poucos dias antes de morrer – de receber, por qualquer modo, igrejas pobrezinhas moradas ou outra qualquer coisa que para eles seja edificada, se não forem conformes a santa pobreza que na regra prometemos; e nelas se hospedem sempre como peregrinos e estrangeiros” (T 24)
A pobreza material é uma forma de vida para o franciscano. Diz-nos Pe. D. Azevedo “A pobreza material é, pois, uma exigência da pobreza franciscana, não como forma de ascese ou de solidariedade social, mas como atração da Cruz, como um passo no seguimento da identificação com Cristo pobre e crucificado” (Fé e vida p. 123)
A humilhação como participação na rejeição de Cristo
A humilhação, o desprezo e o ultraje a que Jesus se submeteu, para expiar as forças diabólicas que há no homem, é a razão, a força motriz que leva a Francisco a seguir a Cristo com alegria, na pobreza e no sacrifício, com os olhos postos na redenção e na vida eterna.
Francisco, não se limita a observar a vida que Cristo viveu, mas, quis vivenciá-la tanto na pobreza, como na humildade e na humilhação. Exorta os seus companheiros a seguirem essa forma de vida: de pobreza material e sem nada de próprio como Jesus viveu com sua Santíssima Mãe de esmola e sem teto: “Todos os irmãos usem vestes pobres, podendo, com a bênção de Deus, remendá-las de burel e outros retalhos de pano.” (2R 2, 16)
Por isso, viver de esmolas, irmãos, não os deve envergonhar, antes, devem amar esta forma de vida por ser a única que os leva à terra dos vivos. Viver esta forma de vida, per si, isto é, viver a pobreza franciscana é uma escolha de vida e não deve ser imposta a quem a não quer seguir: “Eu os admoesto e exorto a que não desprezem nem julguem os homens que virem usar vestes delicadas e coloridas (cf. Mt 11,8), tomar alimentos e bebidas finas, mas, antes, julgue e despreze cada qual a si mesmo.”(2 R 2,17)
Os irmãos devem seguir a forma de vida de nosso Senhor Jesus Cristo e sua Santíssima Mãe que viveram de esmolas e sempre como peregrinos e estrangeiros
Perdão e a paz como forma de pobreza
O franciscano deverá ser um homem de perdão e Paz porque, o filho de Deus, desde o seio da Trindade até o abismo da morte é um mistério de perdão e de Paz. Isto é, participar no mistério da cruz pelo lado da magnanimidade divina.
O perdão do pecado, Aquele pecado que nos fere, esse, pelo ódio, aninha-se no nosso eu interior, uma vez, expulso pelo perdão faz nascer o homem novo todo ele ternura em forma de pobreza, de fraternidade e de entrega.
A opção pela não violência e pela paz coloca-nos num caminho de entrega, de comunhão com o dinamismo que habita em Jesus. A este propósito, dos irmãos que iam enfrentar os mouros, diz-nos S. Francisco: “E todos os irmãos, onde quer que estiverem, lembrem-se que a si mesmos se deram e entregaram seus corpos a nosso Senhor Jesus Cristo e que por seu amor de devem expor aos inimigos vivíveis e invisíveis” :(1R 16,10-11)
Paciência na perseguição e enfermidade
Humilhação e paciência, não são simples conceitos, são mais uma forma de identificação com Cristo Pobre e Crucificado. S. Francisco define, com singular clareza, o sentimento verdadeiro de humildade e de paciência daquele que resulta de uma mera convenção social. Alegando que em tempo de paz e saúde todos aparentam ser generosos, exorta o Santo: “Mas venham tempos em que o contrariem os que o deveriam contentar, a paciência e humildade que então mostrar, essa é a que tem é não mais” (Ex 13)
As três exortações que S. Francisco introduziu na Regra definitiva são centros nucleares da vida franciscana. No que inclui o capítulo décimo, o Santo escreve: “Atendam a que sobre todas as coisas devem desejar ter o Espírito Santo (…)”. Aquele que tem a graça do Espírito Santo aceitará com alegria estas provações.
O mesmo se passa com a enfermidade, não é na saúde, mas na doença quando, torturados pelas dores e o sofrimento e, vividos em paciência, que se dá o milagre da alegria. Assim, ao conceito da humildade e da paciência acrescenta-se o da alegria; “perfeita alegria” (Cf. F1 8). Esta (“perfeita alegria”) advém do amor. O irmão tem os olhos postos no sofrimento de Cristo e, na compaixão pelo sofrimento do seu Senhor, qualquer sofrimento lhe parecerá insignificante numa atitude cristocêntrica.
A humildade, a paciência e a alegria, de que falamos, não resulta de um autodomínio em si mesmo, mas, no plano do exercício do amor. Qualquer sofrimento que venha a viver não o sentirá como tal porque todo o seu ser está preso em Cristo e na sua compaixão.
Amor aos inimigos
Ser tocado pelo amor ao inimigo, é possível? Sim, é possível, quando se atinge o despojamento de nós mesmos. Amar os inimigos é a essência do cristianismo. É possível amar o inimigo quando o homem deixar de estar polarizado no seu eu e, determinar as suas atitudes em função deste (eu) porque Deus disse: “(…) Amai os vossos inimigos e orai peles que vos perseguem e caluniam” (2R 10, 10) Este amor, pleno de gratuitidade, livre e afastado da egocentricidade é todo paz e serenidade, uma serenidade, que ascende à verdadeira sabedoria, citamos a primeira Regra: “portanto todos os que injustamente nos causam tribulações (…) são nossos amigos, aos quais muito devemos amar, porque, por tudo isso que nos fazem, temos a vida eterna” (1R 22, 3-4) É importante referir e distinguir: trata-se de amar o inimigo e não de perdoar tampouco esquecer a ofensa. Padre David Azevedo diz-nos;” Tal como Deus, que faz brilhar o sol sobre o bom e sobre o mau com divina soberania, o amor é então absolutamente independente (…) (Fé e Vida, p.116)
- Francisco deixa-nos muitos exemplos e exorta-nos a amar os nossos inimigos por amor a Cristo Redentor, como quando diz: “Porque também nosso Senhor Jesus Cristo, cujos passos devemos seguir, ao que O entregou chamou amigo, e aos que O crucificarão, espontaneamente lhes pôs as mãos “(1 R 22,2)
A simpatia pelos pobres, pelos doentes e pelos pecadores
Francisco, um coração livre e aberto a todos os homens, aparentemente, dedicou toda a sua atenção e preferência aos pecadores, aos doentes e aos pobres. Esta, aparente preferência, do Santo, não tem como precedência um sentimento de solidariedade social ou de um sentimento de compaixão, antes assenta, mais uma vez, em Jesus Cristo Pobre e Crucificado.
Vejamos, foi por amor aos pecadores que Ele veio ao mundo para os resgatar. Sendo rico, viveu pobre, foi ultrajado indo até ao calvário, sofrendo o martírio da Cruz, por amor ao homem, a fim de resgatá-lo do pecado para lhe oferecer a vida eterna:
Pe. David Azevedo; “Quisemos unir a pobreza e a felicidade (…) A primeira é a identificação com Jesus. Todo o dinamismo desta pobreza se reduz ao amor que deseja identificar-se com o amado. Todos os meios que ajudem a realizar esse desejo são ocasiões de júbilo e os níveis que essa identificação atingir serão também níveis de felicidade (…) (pp. 131-132)
Cumpre-nos referir que, o coração do Poverello, para além da alegria da identificação do amor redentor com Jesus Cristo, existe o desejo do amor redentor entre os homens, um dos exemplos desse amor, entre os homens, é o episodio, doloroso, ocorrido entre a mãe e a irmã de Santa Clara. Clara, toma a iniciativa de aproximar e sarar aqueles corações silenciosos e magoados, oferecendo rosas às duas de uma forma bonita e discreta: a mãe encontra um grande ramo de rosas no seu quarto aos pés do crucifixo e a irmã também encontra uma rosa no seu quarto. Este gesto foi redentor porque promoveu a paz e o amor entre mãe e filha e, perdoando-se mutuamente, foram fonte de indizível felicidade
Este exemplo, tão franciscano, não apagou a insinuação que emudeceu e magoou a família mas, houve a arte de ressuscitar o amor no meio da família que estava magoada. Pe. David Azevedo reflete, com muito acerto: “- ter arte de ressuscitar o amor no meio dos conflitos que torturam a família humana em nossos dias (p. 133)
II – Excursos
Pobreza e intimidade
Pe. Davi Azevedo faz, neste capítulo -Pobreza e Felicidade – um desvio ao tema principal com a intenção e relacionar a pobreza com aspetos da condição humana.
Em primeiro lugar trabalha a intimidade: “já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai” (Jo 15,15)
Deste modo defende que a partilha, a convivência entre os homens leva à intimidade que é a semente da felicidade. Leva-nos a nos questionar qual a natureza da sociedade atual? Como se organizam entre si? Há nela a partilha? Ou estará marcada pelo egoísmo, pela relação económica na qual tudo se negoceia, desde o amor até à apropriação vertiginosa de tudo ter sem nunca atingir a saciedade? Esta é uma condição escravizante transversal a toda a sociedade que exalte o que há de pior – no eu – do ser humano. Um certo estado demoníaco em que o foco está o ter pelo ter de uma forma ilimitada a qual vela à insaciedade à heresia da superatividade – o egoísmo! Citemos Pe. David Azevedo: “Comprar e vender, trabalhar e consumir, são operações que permanecem muito perto da animalidade: para chegar à personalidade, para o homem ser pessoa, é preciso dar o salto para a intimidade” (p. 134)
O franciscano vivendo a pobreza interior, consegue ultrapassar o biológico, somos seres contingente; citando a bíblia – “línguas de fogo soltas do ar” elas extinguem no ar…por isso, a intimidade é tão rara!
A intimidade é raramente atingida. Mas, apesar de haver um longo caminho a percorrer é possível chegar a ela. Vivendo em comunhão com a pobreza interior franciscana e com confiança inabalável em Deus seremos premiados pela intimidade. Diz-nos Pe. David Azevedo: “Atualmente, vivemos numa sociedade de “servos”. As relações que predominam são (…) económicas, “servos” trabalhadores, comerciantes tecnocratas, planificadores, etc.. A vida é trabalho e negócio. Mesmo o amor é negociado nas demandas da sexualidade” (p. 134)
Pe. Azevedo desafia-nos a imaginar uma sociedade na qual todos fossem tocados pela amizade e diz-nos “comprar e vender, trabalhar e consumir, são operações que permanecem muito perto da animalidade”
Isto é para o homem chegar a ser pessoa (chegar à personalidade) é preciso dar o salto para a intimidade. A intimidade tem como operação própria a comunicação o homem expande-se em comunicação não de coisas, mas de si mesmo. A necessidade de consumir e ter coisas é ultrapassada. A personalidade pressupõe que se ultrapassou o biológico que é o preludio da intimidade a qual ascende à felicidade.
“ a pobreza interior. O homem está ainda aquém deste salto. Muito caminho há para andar” Pe. David Azevedo (p. 134)
Êxodo e êxtase
Pela complexidade do tema e, porque, Pe. Azevedo, o trata tão brilhantemente vamos limitar-nos a transmitir a sua opinião. “
” Depois de falarmos tanto de empobrecimento, de despojamento, de esvaziamento, de aniquilamento, ficamos com a impressão de estarmos a desfazer pouco a pouco o nosso ser, até ele acabar por desaparecer (…)” (p.135)
“A pobreza seria como um êxodo sem terra prometida, como falar de felicidade dentro dum tal discurso? A pessoa que ama outa coisa não deseja que ser possuída: “a fim de que totalmente vos possua Aquele que totalmente a vós se dá” Há uma liberdade”(p. 135) “Vede, irmãos, a humildade de Deus e derramai diante dele os vossos corações; (…) nada de vós mesmos retenhais para vós a fim de que totalmente vos possua aquele que totalmente a vós se dá “ (carta a toda a Ordem – CO 28, 29)
“Êxtase” significa existir através de outrem. Esta suspensão do homem a partir d Deus- que acontece no encanto e no amor de Deus” (p. 135)
Pobreza e Liberdade
Pe. David Azevedo, para se fazer entender de uma forma simples, sem antes deixar de definir a essência do homem como um ser livre, faz-nos a distinção entre a liberdade de escolha e liberdade de eleição.
A liberdade de escolha, será um espaço onde o individuo se pode movimentar a seu belo prazer? Nesta, liberdade de escolha, o homem escolhe as coisas para se apoderar delas, para as colocar ao seu serviço. Um movimento da apropriação. Olha para as coisas com sentido de utilidade ou propriedade: para que me servem?
Já na liberdade de eleição: o homem deixa-se encantar e cativar pelas coisas. Não as quer possuir, quer preservá-las. Aqui a pergunta é: Como posso servi-las? Só pobre de espirito, curado da tendência gananciosa e devoradora, tem capacidade de ver as coisas, de as deixar estar onde estão, de as deixar ser como são.
O homem libre não dirá que o inferno são os outros. Diria se os outros não existissem teriam de ser criados. Só quando os homens forem de coração pobre serão poetas e sentir-se-ão inebriados no convívio com os outros. Sem pobreza de espírito não haverá liberdade.
Pe. Azevedo fala-nos da liberdade de hoje nestes termos:
“A liberdade de que se fala agora é uma miragem. É um armistício no meio duma situação de guerra permanente (…) em vez de se lutar pelos direitos próprios, se trabalhasse para promover os direitos dos outros. Seria deveras um mundo novo” (p.137) “Quem não renascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3, 3).
Pobreza e trabalho
Pe. David Azevedo, assenta o seu reflexão, pobreza e trabalho, nos ensinamentos que S. Francisco, explicitamente, nos deixa de como devem viver os irmãos essa dadiva; o -trabalho- tanto para o próprio como para a comunidade onde está inserido. Essa preocupação, de Francisco, é espelhada logo na primeira Regra (1R VII), na Segunda Regra (2R V), bem como no Testamento (T 21).
- Francisco considera o trabalho uma graça e um dom
Sendo dom é doado a cada um o, qual, assenta nos mais diversos misteres, na saúde, na força e na habilidade. Bem como nos conhecimentos que recebeu ou foi adquirindo ao longo da sua caminhada; para desempenhar o seu trabalho prossupõe que o irmão pessoa os instrumentos adequados e, necessários, ao desempenho do mesmo, “que seja humilde e honesto, o mesmo que os irmãos exerciam antes de entrar para a Ordem que possam ter as ferramentas e instrumentos necessários (1R 7)
Sendo uma graça – o trabalho – seja desempenhada com amor e honestidade, “os irmãos a quem o senhor deu a graça de trabalhar, trabalhem fiel e devotamente, de maneira a afugentar a ociosidade, inimiga da alma, mas não apaguem o espírito da santa oração e devoção aos quais todas as demais coisas devem servir. (2R 5,15)
Trabalho espaço de Liberdade;
Ora, sendo o trabalho um dom; a ideia de trabalho forcado ou como castigo perde sentido. O trabalho é uma graça devendo ser desenvolvido com graciosidade e feito com amor. O trabalho deverá deixar “o homem livre para a criação e para a oração”. Que seja um espaço de liberdade.
Trabalho e ociosidade
Continuando a citar Francisco, em o Testamento: “Eu trabalhava com minhas mãos e quero ainda trabalhar; e firmemente quero que os irmãos trabalhem em mister honesto; não pela cobiça do preço do trabalho, mas para dar bom exemplo e repelir a ociosidade” (T 21)
“Pergunta polémica” A venda do trabalho pode ser vista como cobiça? Como uma forma de prostituição?
A resposta é-nos dada pelo próprio autor ao referir que:
“A cobiça do preço do trabalho constitui uma degradação do mesmo. “vender” o trabalho já alguém chamou de “prostituição do trabalho”. A expressão poderá parecer excessiva, mas tem o mérito de chamar a atenção para um aspeto do quase sagrado do trabalho, que é a sua relação com a pessoa. Diante duma obra de arte, duma verdadeira obra de arte, sentimos uma profunda impressão de respeito. Há nela o mistério da beleza, mas não só. Há também a presença do artista que nela pôs toda a sua alma. A obra de arte, por isso, não tem preço, não se vende, não é mercadoria para supermercado. Se alguém a adquire, o dinheiro que oferece, mais do que preço da coisa, é homenagem ao artista. (…) Dá-se valor à arte (…) Um médico faz da sua profissão um sacerdócio, se trabalha por vocação. Ao contrário, se pensa sobretudo no dinheiro (..) está a” prostituir” o seu trabalho. O mesmo se poderia dizer de outra profissão” (Fé e Vida, p. 140).
Pe. David Azevedo, reforça este trabalhar como dom e graça cintando o Profeta Al Mustafá quando questionado acerca do trabalho como graça e dom;
O que é trabalhar com amor?
“Trabalhar com amor é tecer o pano com fios do coração como se o teu amado fosse usar essa peça de vestuário
É construir uma casa com esmero e carinho, como se o teu amado fosse habitar nessa casa.
É espalhar as sementes com ternura e colher o trigo com alegria, como se o teu amado fosse comer esse pão”
É impregnar tudo o que fazeis com o sopro do vosso espírito, saber que todos os que já morreram, estão junto de vós, felizes, presenciando o que estios fazendo” (khalil Gibran, O Profeta, Ed. Oríon, México, 1972, p. 53)
Quanto ao trabalho Livre diz-nos, o Pe. David Azevedo que: “O Trabalho deverá ser livre e deixar o homem livre (…). Deixar tempo para fazer oração, para conviver com a família e para proporcionar um pouco de lazer ao corpo. Mas, não só, deverá deixar-lhe sobretudo liberdade de espírito para poder usufruir dessas coisas, não aconteça que o homem tenha materialmente tempo, mas tão obsessionado esteja com o trabalho, que lhe falte liberdade de espírito e se encontre irremediavelmente apanhado na engrenagem escravizante duma lufa-lufa sem pausa”.
Acerca da revolução tecnológica e o trabalho diz-nos que:
“O trabalho livre será um tema que não tardará a apresentar-se na cultura atual ocidental- e mal será se isso não vier a acontecer. É de esperar que a revolução tecnológica chegue a tal apuro (…). O problema do desemprego, que aflige tantos governos, pôr-se-á a uma escala maior (…) A questão não será como acabar com o desemprego, mas ao contrário (…) como integra-lo num convívio social feliz (…) parte da solução caberá, sem dúvida, à sociedade, mas uma boa parte ficará sempre para o individuo, condicionando a sua reeducação, ao seu espirito de pobreza (…) A Igreja (…) os ministérios da Igreja poderão ser sectores em que os préstimos e a criatividade do homem, assim libertado, poderão encontrar um lugar de realização”. (p.1)
Refletimos juntos: nas Fraternidades franciscanas, tomando como exemplo a nossa, que prioridade, cada irmão, dá à oração?
Como se vive a liberdade de espirito? Como se vive a pobreza de espirito? Não deveria o franciscano, antes de todos estar alerta para perscrutar, analisar com espírito de pobreza os novos auspícios, os “ventos” que anunciam mudanças radicais, na forma e no tempo que ora se dedicado ao trabalho? Fruto da referida revolução tecnológica, que se avizinha muito rapidamente?
Pobreza e promoção do homem
Pobreza material como “sacramento” da bem-aventurança
O Pe. David Azevedo alerta para a eventual má interpretação ao definir a pobreza material como bem-aventurança porque, numa análise superficial, poderemos ser levados a pensar que se está a defender o “statu quo” instalado, ou seja, a defesa de uma sociedade assente na desigualdade escandalosa da distribuição dos bens e da terra e, com o objetivo de amortecer a força revolucionária apostada em promover classes sociais com ascensão dos mais pobres. Tal não é o nosso propósito e, como franciscanos, seguindo o exemplo de S. Francisco de se focar na pessoa do irmão e não para o lado material. Ver a pessoa e não as coisas.
A solidariedade dos povos entre si que gera a amizade.
Recordando a sacralidade dos sacramentos, como “sinal eficaz da graça”, Pe. D. Azevedo leva-nos à reflexão de que:
“Essa graça vem a ser a solidariedade dos pobres entre si. A pobreza cria dependência, a dependência pede solidariedade, a solidariedade, por sua vez, dá ligar á união, á gratidão e à amizade. São valores inestimáveis” (p. 143, § 2)
Estes valores, inestimáveis, atrás citados, longe de ser uma miragem é uma realidade vivida nas “aldeias comunitárias” com carências materiais. Muitos de nós habitamos em comunidades onde o bem-estar comum era uma prioridade a qual de tão naturalmente vivida não era questionada.
Quando havia uma má colheita os que haviam tido melhor colheita dividiam entre si os produtos, quando estavam doentes todos se entreajudavam essa forma de agir faz do outro um irmão e desenvolve o sentido de pertença amorosa que é o motor da gratidão que impele à amizade. Esta comunhão do grupo é motivo de bem-estar e de felicidade.
Relação entre ricos e pobres
Também é possível, aqui, encontrar valores importantes para ambas as partes, mantendo o espírito sereno. Para tal é necessário que o sacramento, que é transeunte, vai passando e a medida que a realidade – a graça- se vai impondo, esta, (a graça) motor de amor entre os homens, vai criando uma relação amorosa a qual irá substituindo a relação económica pela amizade construindo, pelo respeito mútuo, a felicidade entre as classes.
Acerca disto voltemos ao pensamento do P. D. Azevedo ao referir que: “Quando as pessoas sentirem necessidade umas das outras, pelo fato de se amarem, pelo fato de apreciarem a presença mutoa, a convivência e a comunhão amiga entre si, quando se tornar real e generalizado o conteúdo da expressão que salta aos lábios de quem ama é “eu não posso viver sem ti” então a dependência económica deve desaparecer” (Fé e Vida, pp. 143-144)
Autossuficiência; Sobre este aspeto diz-nos o Cardeal Ratzinguer:
“O homem quer tornar-se Deus e deve tornar-se; mas, sempre que, como no eterno diálogo com a serpente, ele tenta consegui-lo libertando-se da ajuda de Deus e da sua criação, para não se apoiar senão em si mesmo se instalar…numa palavra, sempre se torna “emancipado” e rejeita a infância como estado de vida, desemboca sobre o nada, porque se opõe à sua própria verdade que é a relação filial. Só conservando o que há de mais essencial à infância e à existência de filho, vivida primeiro por Jesus, é que ele acede com o Filho à divindade”[1].
A este propósito diz-nos também o Pe. D. Azevedo que:
“Uma das tentações diabólicas que se infiltrou no espírito do homem foi a autossuficiência: “eu não preciso de esmolas e ninguém ““eu não preciso de ti para nada” nesta maneira de pensar tudo se torna odiosa” Fé e Vida, p. 144 § 2)
Para ultrapassar este espírito demoníaco é necessário que se cultive, nas populações, o sentido de comunhão e amizade. Sentir a graça de viver para os outros ao invés de estar pelo lado das carências estar para o homem, para a pessoa e não para as coisas
Os olhos pousam sobre o olhar do irmão e, não para os farrapos, por forma a despertar o respeito e com ele ascender à felicidade “Nem só de pão vive o homem” vive também de respeito.
Nós, franciscanos, devemos ter uma atitude interventiva em todas as áreas de ação dos homens e não devemos desistir perante as dificuldades que encontramos tanto no trabalho que, devemos considerar como graça, como dom de Deus pelo que devemos honrar e respeitar caminhando de mãos dadas unidos em oração
O Padre David Azevedo, encerra capítulo IV da sua obra; Fé e Vida, citando um trecho das “Florinhas” pela importância que assume na Pobreza e Felicidade passamos a citar: “depois de largo espaço de tempo, S. Francisco e Santa Clara, tornando a si, bem como os demais, e sentindo-se mui reconfortados com o alimento espiritual, pouco caso fizeram o alimento corporal”
Paz e Bem
[1] Cf. RATZINGER, J., Le Dieu de Jésus Christ, Ed. Communio, Pajard, Paris, 1997, p. 83 s.
Irmã Bernardete Sousa OFS
Irmã Maria da Cruz OFS