Teologia e Espiritualidade Franciscanas

(Baseado no Capítulo VIII do livro “Cristãos Leigos com Francisco de Assis” de Frei Adelino Pereira)


1. ESPIRITUALIDADE FRANCISCANA E FRANCISCANA SECULAR.

“E como era muito humilde, mostrava toda a mansidão para com todas as pessoas, adaptando-se a todos com facilidade. Embora fosse o mais santo de todos, sabia estar entre os pecadores como se fosse um deles.

Pai santíssimo que amas os pecadores, ajuda-os! Com tua poderosa intercessão e cheio de misericórdia, digna-te levantar os que vês prostrados na abjeção dos pecados.” (1C 83)

1.1. O que se entende por espiritualidade.

Sendo o homem criado à imagem e semelhança de Deus, ser verdadeiramente homem é viver orientado para Deus.

Espiritualidade é a forma de viver a vida de modo a que ela seja dirigida pelo Evangelho e um caminhar para a Vida Eterna.

Como cada um de nós é diferente, esta amizade com Nosso Senhor é diferente e porque cada um de nós é único, também o plano de Deus para cada um de nós é único. Por isso também cada pessoa tem a sua maneira de procurar levar a sua vida no caminho da perfeição, a sua espiritualidade.

O Papa Pio XII, no Discurso aos Terceiros Franciscanos em 1956, disse: A espiritualidade de um santo é a sua maneira particular de representar Deus, de falar d’Ele, de andar com Ele, de tratar com Ele. Cada santo vê os atributos de Deus através daquele em que mais medita, que mais aprofunda, que mais o atrai e mais o conquista. O ideal de cada santo consiste em tender para uma virtude particular de Cristo, mas todos os santos, como toda a Igreja procura imitar o Cristo no total.

1.2. A espiritualidade Franciscana.

A espiritualidade franciscana consiste em viver a vida cristã, o Evangelho, à maneira de S. Francisco. E, segundo a Regra que ele deixou aos seus irmãos “observar o santo Evangelho vivendo em obediência, sem nada de próprio e em castidade. (2R)

A espiritualidade do franciscano secular é (R 4) “Observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo os exemplos de S. Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador e centro da sua vida para com Deus e para com os homens.

Devem descobrir nos irmãos, na Igreja e nas ações litúrgicas, especialmente na Eucaristia, e pessoa viva e operante de Cristo. (R 5)

A Regra dos Franciscanos seculares expõe mais uma série de pontos, mas gostaríamos de vos propor que pensemos um pouco nesta questão:

Qual é o lugar que eu dou a Deus em cada dia da minha vida?


2. O DEUS DE S. FRANCISCO É A TRINDADE.

(1CF 5-7)

“Oh! quão felizes e benditos são os homens e mulheres que praticam estas coisas e perseveram nelas! 6 porque repousará sobre eles o espírito do Senhor (Is 11, 2) e neles estabelecerá a sua morada e mansão (Jo 14, 23); e são filhos do Pai celeste (Mt 5, 45), cujas obras fazem; e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 12, 50).

2.1. O nome de Deus é, para S. Francisco, a Trindade.

Já tivemos uma reunião com o tema S. Francisco e a Trindade e vimos que para S. Francisco Deus é a Trindade, e por isso não nos vamos alongar muito neste ponto, mas recordar os aspetos mais importantes.

S. Francisco diz primeiro Trino e só depois Uno, sempre que se refere a Deus (ao contrário do que nos habituámos a ler e a escrever). E fala e escreve sempre em nome da Santíssima Trindade:

“Em nome da Santíssima Trindade e santa Unidade, Pai e Filho e Espírito Santo. Ámen.” (CO 1).

Para S. Francisco, todos nós temos uma relação com cada uma das três pessoas da Santíssima Trindade e ele ensina-nos a viver essa relação:

“Somos esposos, quando pelo Espírito Santo a alma se une a nosso Senhor Jesus Cristo. Somos seus irmãos, quando cumprimos a vontade de seu Pai que está nos céus (Mt 12, 50); somos suas mães, quando o levamos no coração e no corpo (1Cor 6, 20) pelo divino amor e pela pura e sincera consciência, e quando o damos à luz pelas santas obras, que devem brilhar aos olhos de todos para seu exemplo (Mt 5, 16).

Oh! como é glorioso ter no céu um Pai santo e grande! Oh! como é santo ter um tal esposo, consolador, belo e admirável! Oh! como é santo e amável ter um tal irmão e um tal filho, agradável, humilde, pacífico, doce, amável e mais que tudo desejável, Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu a vida pelas suas ovelhas (Jo 10, 15)”

(1CF 8-13)

2.3. A espiritualidade Trinitária na vida do franciscano e do franciscano secular.

Nós franciscanos e franciscanos seculares devemos viver esta espiritualidade de um Deus Trindade desde logo quando começamos qualquer oração ou celebração com o sinal da cruz: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”

A Trindade é família e relação e por isso todo o franciscano e franciscano secular só se sente bem quando em relação com Deus e em relação com os outros e toda a Criação deve constituir a família.

Deixamos aqui uma segunda pergunta para meditarmos:

Como vivo em cada dia a espiritualidade da Santíssima Trindade Deus, Pai e Filho e Espírito Santo?


3. AS TRÊS PESSOAS DA SANTÍSSIMA TRINDADE.

3.1. Deus Pai Criador.

Para S. Francisco e para o franciscano e franciscano secular, Deus Pai é:

– O Deus que tudo criou por amor e para o amor porque Deus é amor (1Jo 4,8)

– O Deus que ama cada homem pessoalmente porque é seu Pai (mesmo o pior dos pecadores – Rm 5,20)

– O Deus que quer o melhor para cada homem porque cada homem é seu filho (Jo 1,12).

– O Deus que tomou e toma sempre a iniciativa de amar primeiro (2Jo, 4, 19)

– O Pai que nos enviou os seu Filho Jesus Cristo que se fez homem no seio de Maria e com Jesus nos vieram todos os bens.

Escreve S. Paulo: Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos altos céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo (Ef 1,3)

3.2. Deus Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Para S. Francisco, e para todos nós, o Deus Filho é:

– A Boa Nova: Ele é o Salvador.

– O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

– O Caminho, a Verdade e a Vida

– O Reconciliador dos homens com Deus Pai (salvar, não condenar)

– O Redentor!

Pela Encarnação fez-se homem em tudo igual a nós exceto no pecado.

Pela sua Morte: deu a sua vida por nós, ninguém lha tirou, entregou-se totalmente ao Pai, destruiu a morte e deixou-nos a Lei do Amor.

Pela Ressurreição deu-nos a vida gloriosa e imortal: uma vida nova, gloriosa e definitiva em Amor total.

Por isso foi exaltado e glorificado por Deus, seu Pai.

“Nada é mais importante, dizia ele (S. Francisco), do que a salvação das almas” (2C 72)

3.3. Deus Espírito Santo, o senhor que dá vida.

“… e sejam batizados e se façam cristãos, porque, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode

entrar no reino de Deus (Jo 3, 5).” (1R 16, 7)

O Deus Espírito Santo:

– Jesus foi concebido no seio de Maria pelo poder do Espírito Santo.

– Jesus dá-nos o Espírito Santo.

– Também todos nós fomos formados pelo Espírito Santo e somos guiados e santificados por Ele.

– O Espírito Santo habita em cada pessoa humana.

– O Espírito Santo faz-nos reconhecer que somos pecadores

– O Espírito Santo faz-nos descobrir, reconhecer e acreditar em Jesus Cristo

– O Espírito Santo realiza a união e reconciliação e comunhão de cada um de nós pecadores com Deus

– É o Espírito Santo que produz em nós um novo nascimento para a Vida Nova (Nicodemos)

– É o Espírito Santo que vem em auxílio da nossa fraqueza.

– É o Espírito Santo que nos ensina a orar (estamos no Ano da Oração como preparação para o Ano Santo)


4. O SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE E AS SANTÍSSIMAS PALAVRAS.

“Ardia com o fervor do mais profundo de todo o seu ser para com o sacramento do Corpo do Senhor, pois ficava absolutamente estupefato diante de tão amável condescendência e de tão digna caridade. Achava que era um desprezo muito grande não assistir pelo menos a uma missa cada dia, se pudesse. Comungava com frequência e com tamanha devoção que tornava devotos também os outros. Como tinha toda reverência para com aquilo que se deve reverenciar, oferecia o sacrifício de toda a sua pessoa e, ao receber

o Cordeiro imolado, imolava o seu espírito com aquele fogo que sempre ardia no altar de seu coração.”

(2C 201)

4.1. A Eucaristia para S. Francisco.

S. Francisco foi um homem tomado de um amor total por Jesus e vamos destacar deste amor três momentos: Greccio – o amor pela Encarnação;

Eucaristia – o amor pela presença real de Jesus Cristo no Sacramento do Altar;

Paixão, Morte e Ressurreição – o amor pela Cruz e pelo Dom da Vida da Glória.

4.2. Como queria S. Francisco que se venerasse o Corpo e Sangue do Senhor.

Antes de mais notemos que S. Francisco não era homem de grandes recomendações para os seus irmãos. Abria algumas exceções e uma delas era precisamente as recomendações sobre o Corpo e Sangue do Senhor.

Recomenda vivamente a comunhão do Corpo e Sangue de Cristo: “E, assim contritos e confessados, recebam o Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo com muita humildade e respeito, recordando o que o mesmo Senhor disse: Quem come a minha carne e bebe o meu Sangue, tem a vida eterna” (1R 20, 5)

Igual adoração prestada à Eucaristia e à Palavra: “Nós sabemos que não podemos ter o Corpo do Senhor, sem a consagração feita pela Palavra. Porquanto, do mesmo Altíssimo nada temos nem vemos neste mundo, corporalmente, senão seu Corpo e Sangue, nomes e palavras, pelos quais fomos criados e remidos da morte para a vida (1Jo 3, 14).” (CCL 2-3)

Zelo pela guarda e conservação da Eucaristia: como no tempo de S. Francisco não havia sacrários, os sacerdotes levavam consigo Corpo e Sangue de Cristo, o pão e o vinho consagrados; S. Francisco pedia a todos que se vissem o Corpo ou o Sangue de Nosso Senhor em locais não apropriados como tabernas, tascas, etc. o trouxessem para os conventos para aí ser cuidado e devidamente guardado.

À semelhança de Jesus, fazia da Eucaristia a referência máxima do amor fraterno: pouco antes de morrer “Enquanto os frades choravam amargamente e se lamentavam inconsoláveis, o pai santo mandou trazer um pão. Abençoou-o, partiu-o e deu um pedacinho para cada um comer. Também mandou trazer um livro dos Evangelhos e pediu que lessem o Evangelho de São João a partir do trecho que começa: “Antes do dia da festa da Páscoa”, etc.” (2C 217)

S. Francisco vê na Eucaristia o Amor sem limites de Jesus Cristo pelos homens e a humildade com que Nosso Senhor manifesta esse amor.

“Oh! grandeza admirável, oh! condescendência assombrosa, oh! humildade sublime, oh! sublimidade humilde, que o Senhor de todo o universo, Deus e Filho de Deus, se humilhe a ponto de se esconder, para nossa salvação, nas aparências de um bocado de pão.” (CO 27)

Maneira franciscana de imitar Jesus. É uma das passagens do Evangelho que S. Francisco encontrou: “Jesus disse então aos discípulos: “Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”” (Mt 16, 24).

As fontes da santidade franciscana nascem na Eucaristia e são três:

1 – a pobreza franciscana feita de amor pelos irmãos a dádiva de si;

2 – a alegria franciscana feita de pureza e dom pleno de si;

3 – o amor universal que em tudo vê a mão de Deus, Trino e Uno.


5. A IGREJA.

“Para melhor cumprimento de todas estas coisas, por obediência imponho aos Ministros que peçam ao senhor Papa um dos Cardeais da santa Igreja Romana que seja governador, protetor e corretor de todos os irmãos; para que, sempre súbditos e sujeitos aos pés da mesma santa Igreja, estáveis na Fé católica (Cl 1, 23), observemos a pobreza e humildade e o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, que firmemente professamos.” (2R 12, 3-4)

“… O Senhor, por sua misericórdia, deu-me e dar-me-á muitos filhos, que não poderei proteger só com minhas forças. Portanto, é necessário que os coloque debaixo da proteção da Santa Igreja, a fim de que os proteja e governe à sombra de suas asas” (TC 63)


Já falámos muito deste tema por isso vamos aqui só recordar aspetos da espiritualidade de S. Francisco para com a Igreja.

5.1. S. Francisco Filho da Igreja.

S. Francisco dizia sempre a Santa Mãe Igreja: “… que se mostrem sempre fiéis e obedientes aos bispos e padres da nossa Santa Mãe Igreja” (EP 87)

5.2. A Igreja como garantia de fidelização ao Evangelho.

S. Francisco queria uma espiritualidade fiel ao Evangelho e a Igreja é para ele o garante dessa fidelidade.

“E, depois que o Senhor me deu o cuidado dos irmãos, ninguém me ensinava o que devia fazer; mas o mesmo Altíssimo me revelou que devia viver segundo a forma do santo Evangelho. E eu assim o fiz escrever em poucas e simples palavras, e o senhor Papa mo confirmou.” (T 14-15)

“Que em memória da minha bênção e do meu testamento, sempre se amem mutuamente, que amem sempre nossa senhora a santa pobreza e a guardem, e sempre se conservem fielmente sujeitos aos prelados e a todos os clérigos da nossa santa madre Igreja.” (TS 3-5)

5.3. S. Francisco Evangelizador.

S. Francisco pregava principalmente pelo modo de vida, pelo exemplo de vida, muitas vezes sem impor, mas mostrando com o que fazia. E pregou:

– a penitência e a conversão de coração

– a paz e a alegria

– o Evangelho: “Pregador do Evangelho, sempre que falava recorria a expressões comezinhas e de fácil alcance, sabendo que a virtude é mais importante que as palavras. Mas também era capaz de fazer alocuções profundas e cheias de vida para os que tinham maior aprofundamento espiritual e maior cultura. Sabia dizer coisas difíceis em poucas palavras e, usando gestos e expressões ardorosos, arrebatava os ouvintes para o céu.” (2C 107)

– por inspiração do Espírito Santo

– demonstra este entranhado amor à Igreja “A todos os que na santa Igreja católica e apostólica querem servir o Senhor Deus, a todas as ordens seguintes: sacerdotes, diáconos, subdiáconos, acólitos, exorcistas, leitores, ostiários e demais clérigos; a todos os religiosos e religiosas, a todos os meninos e crianças, pobres e necessitados, reis e príncipes, operários e lavradores, servos e senhores, a todas as virgens, viúvas e casadas, leigos, homens e mulheres, a todos os moços, adolescentes, jovens e anciãos, sãos e enfermos, a todos os pequenos e grandes, a todos os povos, gentes, tribos e línguas (Ap 7, 9), a todas as nações e aos homens de todos os cantos da terra, os que são agora e os que hão-de vir, a todos humildemente rogamos e suplicamos, nós, todos os irmãos menores, servos inúteis (Lc 17, 10), que perseveremos em verdadeira fé e penitência, pois ninguém de outra maneira terá a salvação.” (1R 23, 7)


6. SENHORA SANTA RAINHA, SANTA MÃE DE DEUS, VIRGEM MARIA

“Rodeava de um amor indizível a Mãe de Jesus, por ter feito irmão nosso o Senhor de toda a majestade. Em sua honra cantava louvores especiais, erguia-lhe súplicas, consagrava-lhe afetos, tantos e tais que nenhuma língua humana os conseguiria exprimir. Mas o que mais nos deve alegrar é que ele a tenha constituído Advogada da Ordem, e posto sob as suas asas, para os proteger e sustentar até o fim, os filhos que em breve ia deixar.

Eis-nos aqui, advogada dos irmãos pobres: cumpre em nós a tua missão de protetora até ao dia que o Pai estabeleceu!” (2C 198)

6.1. Maria como primeira criatura destinada à glória.

Para S. Francisco Maria é a primeira criatura totalmente humana destinada à Glória e á Graça de Cristo, de quem é inseparável.

“Santa Virgem Maria, não veio a este mundo mulher semelhante a ti, filha e serva do Rei altíssimo, o Pai celeste, mãe do nosso santíssimo Senhor Jesus Cristo, esposa do Espírito Santo, roga por nós juntamente com S. Miguel Arcanjo e todas as Virtudes do céu e todos os Santos, a teu santíssimo e dileto Filho, nosso Senhor e Mestre.” (OP – Antífona).

Cristo ocupa o primeiro lugar na espiritualidade de S. Francisco, franciscana, e Maria vem logo a seguir.

Santo António de Lisboa foi também um grande santo mariano.

6.2. Maria para S. Francisco.

Para S. Francisco, Maria é a criatura que está intimamente ligada à Santíssima Trindade: é a filha e serva de Deus Pai; é a Mão de Santíssimo Senhor Jesus Cristo; é a esposa do Espírito Santo.

S. Francisco através dos seus escritos mostra-nos bem o seu amor à Virgem:

Carta a Todos os Fiéis 4-5; Carta a Toda a Ordem Nº21; Primeira Regra 21-22; 1ª Ex 16; Paráfrase do Pai Nosso 7; Ofício da Paixão Antífona 1-2 e ainda Salmo 1 e é claro a Saudação à Bem-Aventurada Virgem Maria.

“E perdoa-nos as nossas ofensas: Por tua inefável misericórdia, por virtude da Paixão do teu amado filho Nosso Senhor Jesus Cristo, e pelos méritos e intercessão da bem-aventurada Virgem Maria e de todos os Santos.” PPN 7

S. Francisco amou tanto Nossa Senhora que a escolheu para Rainha (SVM 1) Advogada e Protetora da Ordem (2C 198).


7. VIDA EVANGÉLICA.

“E, depois que o Senhor me deu o cuidado dos irmãos, ninguém me ensinava o que devia fazer; mas o mesmo Altíssimo me revelou que devia viver segundo a forma do santo Evangelho.” (T 14)

“A Regra e Vida dos Irmãos Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

(2R – 1)

7.1. A escuta do Evangelho decide a vida de Francisco.

“Mas, um dia, ao ouvir, nesta mesma igreja, a passagem do Evangelho que refere ter o Senhor enviado os discípulos a pregar, o santo, que dessa passagem apenas intuíra o sentido geral, celebrada a missa, pediu ao sacerdote que lha explicasse. Comentou-lha o sacerdote ponto por ponto, e Francisco, ao ouvir que os discípulos não deviam possuir nem ouro, nem prata, nem dinheiro, nem bolsa, nem pão, nem bordão para o caminho, nem usar calçado, nem duas túnicas, mas somente pregar o reino de Deus e a penitência, imediatamente exclamou, exultando no espírito do Senhor: “Isto mesmo eu quero, isto peço, isto anseio poder realizar de todo o coração”. (1C 22)

Os franciscanos e franciscanos seculares são convidados constantemente por Nosso Senhor e por S. Francisco a viverem segundo o santo Evangelho.

“A Regra e vida dos franciscanos seculares é esta: observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo os exemplos de S. Francisco de Assis, que fez de Cristo o inspirador da sua vida para com Deus e para com os homens” (R 4)

7.2. O Evangelho como fundamento de vida.

“Os franciscanos seculares, além disso, apliquem-se com frequência à leitura do Evangelho, passando do Evangelho para a vida e da vida para o Evangelho” (R 4)

S. Francisco deixa-nos constantemente palavras das Escrituras. Vemos com muita frequência, nos textos que nos deixou, as referências às escrituras. O mesmo sucede nas suas biografias.

“Guardemos, pois, as palavras, a vida e doutrina e o santo Evangelho daquele que se dignou rogar a seu Pai por nós” (1R 22, 41)

“É bom ler os testemunhos das Escrituras, é bom procurar nelas Deus nosso Senhor, mas eu já aprendi tantas coisas na Bíblia que para mim é mais do que suficiente recordar e meditar. Não preciso mais nada, filho. Conheço o Cristo pobre e crucificado” (2C 105)

7.3. O franciscano secular como homem convicto.

Por tudo isto o franciscano secular deve viver sem medos, sem complexos e sem se deixar ir nas enxurradas de modas, ideologias ou costumes menos cristãos e pouco evangélicos.

Ser cristão franciscano e franciscano secular exige seguir uma vocação encaminhada para a Vida da Glória, pelo testemunho personalizado e convicto.

Foi assim que S. Francisco não sendo contra ninguém, conseguiu sempre vencer as oposições.

Venceu porque estava profundamente enraizado em Cristo e no Evangelho e com os olhos postos na Vida Eterna.


8. FRATERNIDADE FRANCISCANA UNIVERSAL.

“Seria muito longo e praticamente impossível enumerar e descrever tudo que o glorioso pai São Francisco fez e ensinou durante a sua vida. Como contar o afeto que tinha para com todas as coisas de Deus? Quem seria capaz de mostrar a doçura que sentia quando contemplava nas criaturas a sabedoria, o poder e a bondade do Criador? Ao ver o sol, a lua, as estrelas e o firmamento, enchia-se muitas vezes de alegria admirável e inaudita. Piedade simples, simplicidade piedosa! …

Como os três jovens de antigamente, colocados na fornalha em brasa, sentiram-se convidados por todos os elementos para louvar e glorificar o Criador de todas as coisas, também este homem, cheio do espírito de Deus, não cessava de glorificar, louvar e bendizer o Criador e Conservador do universo por meio de todos os elementos e criaturas.” (1C 80)

8.1. S. Francisco chamava irmãos a todos os seres. Porquê?

A resposta é complexa e Frei Adelino Pereira encontra-a na forma como S. Francisco lia cada passo da Bíblia:

  • primeiro detinha-se, fazia uma paragem, preparando o seu espírito para a Palavra de Deus;
  • depois passava à Leitura com toda a concentração;
  • em seguida Meditava e procurava encontrar toda a riqueza da palavra
  • posteriormente Contemplava deixando-se envolver pelos mistérios celestes numa união com Deus Pai, com Nosso Senhor Jesus Cristo e com o Espírito Santo;
  • vinha depois a Oração, falando com Deus e vemos que era uma oração riquíssima pelas orações que nos deixou;
  • seguia-se o Discernimento em que S. Francisco procurava responder à pergunta “Que me pede hoje o Espírito de Deus?”. E era neste discernimento que ele se inseria no mundo: um homem entre os homens e um ser entre todas as criaturas de Deus.

8.2. Fraternidade Universal.

S. Francisco partindo da paternidade de Deus Criador de todas as coisas do universo, via em tudo um filho do Amor de Deus.

8.3. O Cântico do Irmão Sol: Cântico da Fraternidade Universal.

O Cântico do Irmão Sol é o Cântico da fraternidade Universal porque louva duas coisas inseparáveis para S. Francisco e para qualquer cristão: Deus Criador e as Suas criaturas.

Como vamos celebrar os 800 anos do Cântico do Irmão Sol daqui a dois anos, teremos muita oportunidade para aprofundar este aspeto da Espiritualidade Franciscana.


9. ORAÇÃO FRANCISCANA.

“A experiência que tinha da oração mostra-lhe que a anelada presença do Espírito Santo nas almas adquire tanta mais intimidade quanto maior for o afastamento do bulício mundano. … Munido de armas celestes, dizia confiadamente a Cristo: Protege-me à sombra das tuas asas, defende-me dos ímpios que me afligem.” (LM 10, 3)

9.1. Sobre a oração.

Antes de mais a oração não é uma teoria: é uma experiência.

Quando rezamos, é mais Deus que ora em nós do que nós que oramos a Deus.

S. Francisco não deixou ensinamentos sobre a oração. Mostrou. Orava tanto que se transformou em oração.

“Transformado todo ele em oração viva, e não apenas num homem orante, unia a lucidez da inteligência ao ímpeto do coração neste único anseio: viver para sempre na Casa do Senhor.” (2C 95)

9.2. Oração de S. Francisco.

A propósito da oração de S Francisco, Tomás de Celano escreveu:

“Das maravilhas da sua oração, iremos dizer aqui algumas palavras, ao menos a partir do que vimos com os nossos próprios olhos e na medida em que é possível transmitir coisas destas aos ouvidos humanos. O nosso propósito é que sirvam de exemplo aos vindouros.” (2C 94)

No Domingo da Palavra de Deus, 21 de janeiro o Papa estabeleceu oficialmente 2024 como o Ano da Oração, em preparação para o Jubileu de 2025. Por vontade do Papa Francisco, 2024 é dedicado a redescobrir a centralidade da oração.

Da Carta do Papa Francisco ao Arcebispo Rino Fisichella pelo Jubileu 2025:

“Neste tempo de preparação, desde já me alegra pensar que se poderá dedicar o ano anterior ao evento jubilar, o 2024, a uma grande «sinfonia» de oração. Oração, em primeiro lugar, para recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, escutá-Lo e adorá-Lo. Oração, depois, para agradecer a Deus tantos dons do seu amor por nós e louvar a sua obra na criação, que a todos compromete no respeito e numa ação concreta e responsável em prol da sua salvaguarda. Oração, ainda, como voz de «um só coração e uma só alma» (cf. At 4, 32), que se traduz na solidariedade e partilha do pão quotidiano. Oração, além disso, que permita a cada homem e mulher deste mundo dirigir-se ao único Deus, para lhe expressar tudo o que traz no segredo do coração. E oração como via mestra para a santidade, que leva a viver a contemplação inclusive no meio da ação. Em suma, um ano intenso de oração, em que os corações se abram para receber a abundância da graça, fazendo do «Pai Nosso» – a oração que Jesus nos ensinou – o programa de vida de todos os seus discípulos.

Peço à Virgem Maria que acompanhe a Igreja no caminho de preparação para o acontecimento de graça que é o Jubileu e, agradecido, envio de coração, a minha Bênção.”

Assim para finalizar, deixamos uma terceira questão para refletir na oração:

Que me pede hoje o Espírito de Deus?”

Sugerindo a oração diante da Cruz de S. Damião.

Resumindo o que falámos hoje:

A espiritualidade franciscana é a nossa forma de observar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo os exemplos de S. Francisco de Assis. Esse exemplo assenta nos pilares que S. Francisco nos deixou:

  1. Deus é a Santíssima Trindade e Unidade:
  • Deus Pai Criador.
  • Deus Filho Redentor.
  • Deus Espírito Santo, o senhor que dá vida.
  1. O Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e as Santíssimas Palavras.
  2. A Igreja.
  3. A Senhora Santa Rainha, Santa Mãe de Deus, Virgem Maria.
  4. Vida Evangélica.
  5. Fraternidade Franciscana Universal.
  6. Oração Franciscana.

Frei Adelino Pereira refere ainda temas como:

  1. Profetas de Paz
  2. Alegria e “Perfeita Alegria”
  3. Respeito pela Criação e Ecologia
  4. Família, sede da Sociedade e Igreja doméstica
  5. O Espírito de Assis

mas não havia tempo para tudo isto. Recomendamos que leiam o livro que serviu de base a este tema e vejam estes pontos que não focámos aqui hoje

Foram três as questões que colocámos (de muitas mais que certamente descobriram) para procurar ajudar todos a viver um pouco melhor a Espiritualidade Franciscana neste ano da Oração

1. Qual é o lugar que eu dou a Deus em cada dia da minha vida?

2. Como vivo em cada dia a espiritualidade da Santíssima Trindade Deus, Pai e Filho e Espírito Santo?

3. Que me pede hoje o Espírito de Deus?

Irmã Maria de Jesus Fraga OFS

Abril 2024

Venerável Ordem Terceira

AGENDA DA FRATERNIDADE

Maio

03 Maio ANIV. - VALENTINA DUARTE PINTO
07 Maio 18h00 - Reunião do Conselho
11 Maio 10h00 - Reunião da Fraternidade Visita Fraterna em Ordem ao capítulo eletivo 13h00 - Almoço 16h00 - Eucaristia
21 Maio ANIV. - A. DO CÉU P. ROLETA PIRES
25 Maio Capítulo Nacional Ordinário
28 Maio ANIV. - MARGARIDA SA DANTAS
29 Maio ANIV. - ROBSON F. SILVA OLIVEIRA
30 Maio Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
Procissão do Corpo de Deus.

Junho

03 Junho ANIV. - JOSÉ LUÍS S. ROMÃO
13 Junho Santo António de Lisboa, Doutor da Igreja (solenidade) PADROEIRO DA CIDADE DE LISBOA
19 Junho ANIV. - REGINA M.ª CORREIA REBÊLO
20 Junho 18h00 - Reunião do Conselho
22 Junho 14h30 -  Reunião da Fraternidade
28 Junho ANIV. - ANTÓNIO BELMAR DA COSTA

Julho

03 Julho ANIV. - M.ª INÊS LEMOS M. VINAGRE
04 Julho Bodas de Prata Frei Albertino Ordenação Sacerdotal
09 Julho 18h00 - Reunião do Conselho
13 Julho 10h00 -  Reunião da Fraternidade Capítulo Eletivo (horas a marcar)
15 Julho Festa – São Boaventura, Bispo e Doutor da Igreja (OFM)
16 Julho Memória – Canonização de São Francisco de Assis

Agosto

01 Agosto ANIV. - ISABEL COSTA M. ALVES
02 Agosto N. S. dos Anjos da Porciúncula: Indulgência Plenária - Perdão de Assis (veja com o seu Assistente como pode beneficiar desta Indulgência) MISSA NO HOTC hora a confirmar
02 Agosto a 15 Agosto Peregrinação da OFS a Itália
09 Agosto ANIV. - CARLOS PEDRO GÓIS
11 Agosto Festa – Santa Clara de Assis, Virgem, Fundadora, com S. Francisco, das Irmãs Clarissas
19 Agosto ANIV. - JOÃO CARLOS G. GANHÃO
23 Agosto ANIV. - MARIA DE JESUS FRAGA
25 Agosto Festa – São Luís de França, Padroeiro da OFS

Setembro

06 Setembro ANIV. - ANTÓNIO JOSÉ GONÇALVES
11 Setembro ANIV. - JOSÉ FILIPE DE B. RIBEIRO
12 Setembro ANIV. - MARIA ANA G. VELASCO MARTINS
16 Setembro ANIV. - JORGE RAPOSO DE MAGALHÃES ANIV. - LUÍS A. TORRES DE L. ALVES ANIV. - LUÍS MANUEL F. MARTINS
17 Setembro Festa das Chagas de S. Francisco    
29 Setembro ANIV. - MARIA S. CRUZ DE VASCONCELOS

Outubro

06 Outubro ANIV. - MARIA ELISABETE  S. SILVESTRE
10 Outubro ANIV. - P. Frei Albertino da S. Rodrigues,  OFM
21 Outubro ANIV. - ANTÓNIO MARIA BAIÃO

Novembro

01 Novembro Solenidade de Todos os Santos - Missa no HOTC
HOTC
Vaticano
Igreja Portuguesa
Família Franciscana
CIOFS
OFS Portugal
Fátima
Ecclesia
Jufra OFS