Pobreza Franciscana e Fraternidade
“Pobreza franciscana e Fraternidade” foi o tema apresentado pelo Irmão Luís Alvito na Reunião mensal da Fraternidade, deste mês. Levar-nos a encontrar o verdadeiro espírito e essência da Vocação Franciscana.
Depois de uma breve oração inicial e as informações dadas a todos por parte do Conselho, o Irmão Luís, com o apoio de uma apresentação em Power-point, levou os irmãos que puderam participar a olhar para o cerne autêntico da Vida Franciscana, viver como Irmãos (Fraternidade) e gerindo os bens com um sentido de pobreza (desapropriação material).
O mote para esta formação foi dada logo no início ao lembrar que a espiritualidade de Francisco, mais que Cristocêntrica é primariamente Teocêntrica – Exortação ao Louvor de Deus nº7: “Bendizei o Senhor, ó filhos de Deus”. Verdade que Deus está sempre presente no pensamento, coração e vida do Poverello de Assis contudo, é sempre o Deus de Jesus Cristo o que, por isso mesmo, se torna uma espiritualidade centrada na pessoa e mensagem de Jesus Cristo.
Ao falar da pobreza franciscana, ou pobreza em S. Francisco, percebemos desde logo que Francisco se apaixona pela pobreza precisamente para honrar o Deus Altíssimo em Jesus Cristo Seu Filho amado, como vemos nas suas palavras: “Temei e honrai, louvai e bendizei, dai graças e adorai o Senhor Deus omnipotente na trindade e na unidade, Pai e Filho e Espirito Santo, criador de tudo” ( 1ª Regra, 21, nº1).
Esta relação das três pessoas da Santíssima Trindade, são também a base de reflexão que leva o Santo a perspetivar a vocação franciscana como relação fraterna, familiar, de irmãos.
Viver a pobreza franciscana só faz verdadeiramente sentido se ela é o reflexo de uma resposta clara ao chamamento de Cristo, que como tantas vezes recorda o santo, com a sua Mãe escolheu vida de pobreza e disso nunca se envergonhou, como o recorda na primeira regra: “E não se envergonhem, antes lembrem que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, omnipotente, pôs sua face como uma pedra duríssima, e não se envergonhou” (1ª Regra, 9, nº4).
Pode-se dizer, a partir de toda a reflexão feita pelo Irmão Luís, e das partilhas que foram surgindo por parte dos Irmãos, que há alguns aspetos muito importantes para entender esta forma de Francisco viver e pedir aos seus seguidores que vivam e que aqui se resumem:
- A íntima relação que Francisco vislumbrou logo de início entre pobreza e fraternidade
- Francisco compreendia até que ponto a ânsia de enriquecimento poderia deteriorar as relações humanas
- A fraternidade universal pregada por Jesus tinha no dinheiro a causa da clivagem social
- Francisco vem lançar os alicerces de um mundo baseado em relações horizontais de fraternidade onde cada um seria igual ao seu irmão pela renúncia espontânea a qualquer privilégio de nascimento ou de fortuna
Desde logo percebemos que Francisco e seus primeiros companheiros pretenderam viver a utopia dum mundo tornado mais fraterno e mais aberto, um mundo da idade média onde o poder e o material imperavam, mas que os Menores jamais podiam abraçar.
Ser pobre implica precisar do outro, de Deus, do Irmãos, dos que como pobres partilham da sua pobreza para enriquecer a vida a partir do coração.
Neste sentido como entender nos nossos dias esta resposta à herança deixada por Francisco de Assis? Da reflexão feita podemos dizer que a essência é substituir uma economia de apropriação por uma de fraternidade (chave da primeira Regra) – 4, nº4: “E ajam entre si como diz o Senhor: Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o para eles”
1.º A rutura de base (viver sem nada de próprio) – 1, nº2: “Se queres ser perfeito vai e vende tudo que tens, e dá aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me”
Francisco aceitou a passagem de uma condição humana para outra diferente onde se inseriu na marginalidade, no seio dos rejeitados, devido à sua condição humana – 9, nº2: “E devem alegrar-se quando convivem com pessoas vis e desprezadas, com pobres e fracos e doentes e leprosos e os que mendigam à beira da estrada”
Muito mais se poderia dizer e escrever sobre este tema, tão querido a S. Francisco e Santa Clara e aos seus seguidores. Tema tão pertinente no nosso tempo onde tantas coisas teimam em nos afastar destes princípios fundacionais do Franciscanismo.
Nas partilhas feitas, depois da apresentação, pelos Irmãos e no complemento ao tema feito pelo Assistente, ficou sem dúvida a certeza da riqueza desta reflexão e do quanto temos muito para continuar a aprender e viver este carisma de sermos Irmãos vivendo ao jeito de Francisco de Assis.
Fica sempre o desejo e desafio de cada um procurar rezar estas questões e de no dia a dia viver, dentro do seu contexto vital, esta Profissão à Vida Fraterna.
Para todos votos de Paz e bem!
Frei Albertino S. Rodrigues OFM
Assistente da Fraternidade.